segunda-feira, novembro 08, 2004

CONTABILISTAS PROFISSIONALIZAM TERCEIRO SETOR

Paulo Florêncio - DCI - 04.11.04

O Terceiro Setor, que nos últimos dois anos movimentou R$ 4,7 bilhões ao ano, só com as ações sociais realizadas por empresas — segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) —, está se tornando um nicho de mercado promissor para as empresas de contabilidade. De olho nesse segmento bilionário, algumas empresas de assessoria jurídica, auditoria e serviços contábeis estão se especializando para atender a essa demanda específica. Há casos em que a prestação de serviços para as organizações sem fins lucrativos representam 50% dos negócios das empresas de contabilidade.
A Somed Contabilidade Especializada Ltda. , por exemplo, está há 25 anos no mercado e nos últimos cinco desenvolve um serviço voltado às necessidades de prestações de contas das entidades. De acordo com Edeno Teodoro Tostes, diretor da Somed, a expansão das organizações filantrópicas é uma tendência mundial e deve garantir mais oportunidades de serviços para os profissionais da área contábil. “O Terceiro Setor é um segmento que veio para preencher um vácuo na sociedade, deixado pelos governos. Em todas as áreas como educação, saúde, esportes e cultura existem deficiências. E essas organizações desenvolvem alguns trabalhos nesse sentido com recursos angariados na iniciativa privada. É aí que atuamos, prestando contas a essas empresas privadas parceiras”, explica Tostes.
Em 2005, a expectativa do empresário é a de elevar os seus negócios em 10%, com os novos serviços específicos para entidades que atuam na área da saúde.
Outra empresa especializada em serviços contábeis para o Terceiro Setor é o Escritório Contábil Dom Bosco , considerado por especialistas um dos pioneiros no Estado de São Paulo a atender entidades sem fins lucrativos. O Dom Bosco especializou-se nesses serviços contábeis há aproximadamente 38 anos. Segundo Marcelo Monello, diretor, a contabilidade é importante para essas entidades porque é com base em seus balancetes que se realizam novos projetos, além de ser uma atitude que constrói uma imagem de organização séria e transparente.
Este ano, o faturamento de sua empresa, que tem uma carteira com 110 clientes, terá um incremento de 10%. “Atuamos na área de consultoria, assistência social, assessoria jurídica e contabilidade”, afirma.
Monello conta que, em 2000, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) publicou uma espécie de cartilha para orientar as empresas de contabilidade em suas investidas nesse mercado.
“A cartilha estabelece parâmetros para os profissionais fazerem a contabilidade desse setor. Um dos exemplos é a instrução das normas de como as verbas devem ser explicitadas. Até mesmo as terminologias são próprias para esse tipo de trabalho. Nesse mercado não se diz que uma organização teve lucro, e sim superávit. E, quando houve prejuízo, se diz déficit de exercício”, explica.
Para Carlos Castro, presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon) , no entanto, a contabilidade nas organizações do Terceiro Setor não difere muito daquela feita nas entidades privadas. “O que as entidades precisam é de um profissional especializado para fazer o seu planejamento tributário e as prestações de contas de acordo com a cartilha do CFC”, acentua.
Atualmente, existem cerca de 16 mil entidades sem fins lucrativos cadastradas na Receita Federal, de acordo com o último balanço realizado em 2000.
Mesmo as empresas que não dedicam todo o seu atendimento às organizações do Terceiro Setor, estão atentas a esse potencial do mercado que as entidades sem fins lucrativos podem oferecer.
De acordo com Pedro Fabri Filho, diretor da Flaumar , a empresa atende 12 organizações filantrópicas. O faturamento proveniente dos serviços contábeis para estas entidades gira em torno de R$ 10 mil mensais.
“Muitos contadores não reconhecem esse segmento como um mercado para ser explorado. Por isso, o setor carece de profissionais qualificados”, enfatiza. “Cada projeto que elas desenvolvem tem de ser mensurados e controlados os valores”, completa.